Corretor de grãos suspeito de golpe milionário em Rio Verde se entrega à Justiça e usará tornozeleira eletrônica
Após nove meses foragido, o corretor de grãos Vinícius Martini de Mello, investigado por aplicar um golpe de cerca de R$ 400 milhões contra produtores rurais de Rio Verde, se apresentou à Justiça nesta terça-feira (1º), em Goiânia.

A entrega foi uma das condições para que a prisão preventiva fosse revogada. Agora, o suspeito será monitorado por tornozeleira eletrônica, está proibido de acessar computadores e documentos da empresa envolvida nos crimes, não poderá manter contato com vítimas ou testemunhas e teve o passaporte retido. Vinícius é acusado de fechar negócios com produtores, receber a produção de grãos e vendê-la sem repassar os valores aos donos. A estimativa é que ele tenha retido mais de 3 milhões de sacas de grãos a cerca de R$ 60 cada, gerando prejuízo total para os produtores, que chegaram a entregar toda a produção confiando em garantias como cheques e contratos que nunca foram cumpridos.
De acordo com o Ministério Público de Goiás (MP-GO), as investigações apontam que o corretor movimentou mais de R$ 19 bilhões em transações suspeitas nos últimos três anos, operando em larga escala com indícios de estelionato, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. A Polícia Civil descobriu que ele utilizava empresas fantasmas e laranjas para emitir notas frias, sem recolhimento de tributos — as chamadas “empresas noteiras”. Durante as operações, mais de 400 veículos, sete imóveis e duas aeronaves foram apreendidos, bens que teriam sido adquiridos com os lucros do esquema fraudulento. A família de Vinícius também estaria envolvida nos crimes. Uma das apontadas como cúmplice é a esposa, Camila Rosa Melo, que havia fugido para os Estados Unidos, mas retornou e se apresentou à delegacia. Ambos chegaram a ser incluídos na lista de procurados da Interpol.
Apesar da grande proporção do caso e do número de pessoas investigadas, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, em março deste ano, que Vinícius agiu sozinho, afastando a acusação de formação de organização criminosa. A juíza responsável argumentou que o MP-GO não conseguiu comprovar uma estrutura estável com divisão de tarefas entre os envolvidos. Mesmo assim, o escândalo abalou a confiança do setor agro em Rio Verde, um dos principais polos produtores do país. Produtores, que tradicionalmente movimentam bilhões em transações seguras, agora lidam com o impacto de um esquema que deixou rastros de prejuízo e incertezas, e reforça a importância de segurança jurídica nas negociações do campo.