“Titanic brasileiro”: recordando o naufrágio do Príncipe de Astúrias, tragédia que marcou o Brasil
Naufragado em 1916 perto de Ilhabela (SP), transatlântico era considerado o navio mais luxuoso da Espanha e tinha estrutura de duplo casco, como o Titanic

Na madrugada do dia 5 de março de 1916, o transatlântico Príncipe de Astúrias trilhava o percurso pela costa de Ilhabela (SP), em direção ao porto de Santos (SP). A bordo, oficialmente, estavam 588 pessoas, incluindo 193 tripulantes, porém estima-se que um número maior de imigrantes viajava clandestinamente, sem registros.
O imponente navio havia zarpado de Barcelona, Espanha, com destino a Buenos Aires, Argentina, passando por Las Palmas, Santos e Montevidéu ao longo do trajeto.
Dotado de 150 metros de comprimento, o Príncipe de Astúrias era tido como a jóia da frota marítima espanhola, ostentando cabines confortáveis divididas entre 1ª e 2ª classes, classe econômica e uma área destinada aos imigrantes – grupo que compunha quase metade dos passageiros.
A embarcação dispunha de instalações luxuosas, como restaurante, biblioteca, deck com vidros de cristal e uma elegante sala de música. Cada classe possuía cozinhas e restaurantes distintos, com opções gastronômicas exclusivas, conforme explica o arqueólogo e historiador, Plácido Cali.
Os camarotes da primeira classe ofereciam acomodações suntuosas para famílias abastadas, incluindo quartos, salas e banheiros com banheira. Em contraste, o setor de imigrantes contava com quartos modestos, alguns até sem janelas.
Após 16 dias em alto mar, na madrugada chuvosa de uma segunda-feira de carnaval, o transatlântico preparava-se para adentrar o porto de Santos. A bordo, um baile animava os tripulantes que dançavam ao som das marchinhas.
Porém, a visibilidade ruim e uma forte tempestade desafiavam o experiente capitão José Lotina. Em sua oitava viagem no comando do Príncipe de Astúrias, Lotina decidiu mudar a rota na tentativa de escapar do mau tempo. Desconhecia, no entanto, que a nova direção levaria a águas rasas e uma região de corais.
Às 4h15, o navio colidiu com formações rochosas na área da Ponta da Pirabura, próxima a Ilhabela. O impacto danificou o casco, abrindo uma fenda de cerca de 40 metros. A inundação da casa de máquinas seguida da explosão das caldeiras resultou na fragmentação da embarcação em três partes.
Em questão de minutos, o desastre consumou-se: o Príncipe de Astúrias naufragou, vitimando mais de 440 pessoas e rendendo a alcunha de “Titanic brasileiro”.
Mais de cem anos após a tragédia, as circunstâncias do naufrágio do Príncipe de Astúrias ainda permanecem envoltas em controvérsia, uma história trágica que resiste no tempo.