Jogador do Vila Nova recebeu R$10 mil para causar pênalti em jogo, diz MP
Jogadores envolvidos poderiam receber até 2 milhões de reais

Um atleta do Vila Nova, suspeito de participar de uma quadrilha que manipulava os placares de partidas da Série B do Campeonato Brasileiro, recebeu um “sinal” de R$10 mil para causar um pênalti no primeiro tempo do jogo, de acordo com o Ministério Público de Goiás. O promotor de Justiça, Fernando Martins Cesconetto, conta que se o pênalti fosse marcado — o que não ocorreu — o jogador receberia mais de R$140 mil. O Vila Nova, sendo vítima, denunciou o esquema ao MP.
“Houve o pagamento de um sinal de R$10 mil. A promessa era de R$150 mil, sendo R$10 mil adiantado e R$140 mil depois. Como não teve o pênalti, foi só o pagamento de R$10 mil”, narra o promotor.
A Operação Penalidade Máxima aconteceu na manhã desta terça-feira (14) e cumpriu nove mandados de busca e apreensão, dois em Goiânia e cinco em outros estados. Em São Paulo, um empresário foi detido provisoriamente, sob a suspeita de ser o responsável pelas apostas e de intermediar os contatos com os atletas.
O jornal O Popular teve acesso exclusivo à lista dos investigados na operação. Há dois jovens sob investigação que têm ou tiveram ligação com o Vila Nova Futebol Clube: Gabriel Domingos, volante do time, e o meia Romário, ex-jogador do Vila.
Confira a lista dos atletas suspeitas:
Gabriel Domingos de Moura: atual jogador do Vila Nova-GO
Marcos Vinícius Alves Barreira (conhecido como Romário): ex-jogador do Vila Nova-GO
Joseph Maurício de Oliveira Figueiredo: jogador do Tombense
Mateus da Silva Duarte: jogador do Cuiabá
Pênalti valendo dinheiro
O caso do pênalti que envolveu um jogador do Vila Nova aconteceu em uma partida goiana contra o Sport, em 2022. Além desse jogo, mais dois estão sendo investigados pelo MP: Sampaio Correia contra Londrina e Tombense contra Criciúma, que aconteceram no ano passado. Contudo, segundo o promotor, durante as buscas e apreensões foram encontradas provas que indicam fraude em jogos de 2023.
Os três jogos que estão sendo investigados combinaram que, se marcassem pênaltis no primeiro tempo, os jogadores receberiam R$150 mil, sendo R$10 mil antes, em forma de “sinal”, e o restante diante o resultado.
De acordo com o promotor, nas partidas entre Sampaio Correia e Londrina, e Tombense e Criciúma, os atletas marcaram as penalidades, que havia sido combinada com os apostadores. Todavia, no confronto entre Vila Nova e Sport não houve a marcação, o que teria motivado a “cobrança” dos apostadores envolvidos.
O esquema
O Ministério Público explicou que o esquema criminoso funcionava da seguinte maneira: os apostadores ofereciam propostas para que atletas marcassem pênaltis nos primeiros tempos de cada jogo. Se os jogadores concordassem, era feito o pagamento inicial, um “sinal”. Caso o pênalti fosse marcado, os jogadores receberiam o pagamento integral combinado.
A estimativa de quanto os apostadores poderiam ganhar era de R$500 mil a até R$2 milhões, segundo o MP. Uma vez que o pênalti não foi marcado no jogo do Vila Nova, os apostadores começaram a cobrar o jogador pela perda do dinheiro.
Em comunicado, o Vila Nova Futebol Clube disse que colabora com as investigações após fazer a denúncia. A assessoria do time explica que está aguardando a manifestação do MPGO com maiores informações e “ressalta seu papel colaborativo e o compromisso com valores éticos, morais e de lisura que são princípios do clube e do esporte”.
Formato das apostas
As apostas eram feitas por grupos comuns no WhatsApp. Um print divulgado pelo MP – obtido mediante apreensão de eletrônicos e imóveis – traz um anúncio de uma das apostas referente aos jogos do último final de semana.
Foto: Divulgação/Ministério Público
No print é possível ver que um dos participantes envia uma mensagem intitulada “Operação Pênalti”. É estabelecido os valores que seriam pagos como “sinal” e as quantias que seriam dadas caso o pênalti fosse marcado.
Por exemplo, para um jogo do Vila Nova Atlético Clube, de Minas Gerais, o sinal seria de R$15 mil e o pós de R$55 mil.
“O print mostra como eram as apostas contratadas. Isso é do último fim de semana e bate com o ‘modus operandi’ dos jogos investigados do ano passado. Os nomes que estão borrados são de apostadores”, esclarece o promotor.
O MP ainda informa que casas de apostas também estão sendo vítimas do esquema criminoso.